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Tire os óculos
quando formos à praia de verdade será para que eu
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤentre
todas as últimas praias eram de plástico
quando formos dormirei na praia e acordarei
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤdentro
significa que ficaremos silenciosos
significa que ficaremos cegos
significa que teus olhos ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤme desobedecerão
por uma fresta verei você
excepcional abertura
darei segundos da minha imersão
desviando o trajeto das ondas para a parte
Porque você ainda cuida de mim
não forma uma pergunta
faz uma nuvem
que ronda uma montanha
ㅤㅤuma nuca com cheiro de planta
ㅤㅤㅤㅤㅤᅠuma quase afirmação terminada
em abraços
de corpos que se descolam em algum amanhecer dublado
pelo inconsciente
faz um pedido
como se ser aceita fosse um motivo para ajoelhar
grata pela luz
faz um miado da gata
(bem alimentada)
que sente fome
Samara Belchior nasceu em 1987. É autora de bruxismo e outras automutilações (Urutau, 2022) e pra não ser de plástico quero ser bruxa (Primata, 2023). Compõe o coletivo de poesia Bidê, junto ao qual publicou a Antologia Bidê (Hecatombe, 2023). É professora de História e Filosofia na Zona Leste de São Paulo. Estudou poesia na Casa das Rosas, em SP, e estuda Dramaturgia na SP Escola de Teatro. Samara escreve como forma de existir no mundo, como quem, sabendo ser um corpo, escreve o corpo. Tem dois gatos e livros que já não cabem nas estantes.