Meu Pai
avulta esse sentimento de sertanejo
que nasce, brota e amadurece
na aba do chapéu e nos calos das mãos
tangendo solitárias madrugadas
Minha Mãe
flores de papel
bonecas de palha
doces e flores
gentilezas e singularidades
universo de artesã de afetos
Lúmens
Lamparinas lumiosas no breu da noite,
procissão sem prece e sem os silêncios profundos.
Risos, brigas bobas, pequenas implicâncias,
profusão de alegria nos finos poros.
lenta e corajosamente avança,
caminha mato adentro, trilhas conhecidas, risos ansiosos,
átimos da memória em noites sem estrelas.
crianças felizes,
uma, duas, três, quatro, cinco,
Passo a passo, uma seguindo a outra,
pequenos lúmens que alumiavam
a noite de breu
no caminho para a casa do meu avô.
Estrelas no café da manhã e suco de laranja
peço pouco
apenas as estrelas que brilham no escuro da noite
no café da manhã:
suco de laranja e pão de ontem
desejo linhas de fuga
do agora
quero a(s)manhã(s)
com explosão de luz(es)
entrando nos seus olhos
e nos meus
Poemas, boletos e cafés
olho a folha em branco
meia hora ou mais
nada emerge
nenhum verso
nada
expiração forte
inspiração nenhuma
as palavras fogem
sem prévio aviso
sobre a mesa
boletos, novos livros
café frio e amargo
as contas sempre chegam
luta inglória
os boletos sempre vencem
Foto de Luísa Machado (https://aboio.com.br/tag/luisa-machado/).
Nirlei Maria Oliveira é poeta e bibliotecária com mestrado em Ciência da Informação. Nasceu em Formiga/MG e reside em Campinas/SP. Trabalha no IFSP, Campus de Hortolândia. Atua com ações e projetos de estímulo à leitura. Organizadora da coletânea Quarentena Poética publicada em 2020. Tem poemas publicados nas seguintes revistas literárias: Travessias Literárias, Cult – Lugar de Fala, Literatura e Fechadura, A Palavra No Agora – Museu da Língua Portuguesa, Revista Brasileira no XXI, Partilhas Poéticas do Museu Ema Klabin e Revista Acrobata. Também publicou nas coletâneas Enluaradas(2021) e Mulheres Maravilhosas (2021).