O Sorriso do Erro

O Sorriso do Erro

por Natan Schäfer

24 de setembro de 2024

Eduardo Rosal (https://aboio.com.br/tag/eduardo-rosal) (Rio de Janeiro, 1986) é escritor, professor e antifascista. Autor de O sol vinha descalço (https://www.amazon.com.br/Sol-Vinha-Descal%C3%A7o-Eduardo-Rosal/dp/8566887220) (vencedor do Prêmio Maraã de Poesia 2015 e publicado pela Editora Reformatório). Doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pela Université Nice Sophia-Antipolis (França).

VIDA-FERIDA

Há quem prefira e busque
uma vida fechada,
cumprida antes do fim.

A cadeira de balanço da vitória
velando a última certeza.
Todas as respostas
postas à prova
entre comodismos, lucros
e outros apagamentos.

Eu, não.
Eu quero a vida em aberto,
a dúvida, a dor, o ódio,
o sal de frutas
depois das eleições
e sempre a esperança
no humano renovada,
apesar dos muros,
do gosto do fracasso
nas mãos.

A vida-ferida-aberta
sobre outras cicatrizes
e a aventura infinita,
dentro,
maior que todas as linhas
de chegada.

Uma vida em aberto,
de partanças e curvas
no escuro,
mas o abraço,
o café,
o bolo de fubá
e a coragem de não ser
um anônimo catalogável.

GRITO

Contra fascismos e neofascismos,
meu nome se escreve
com um rosal
empunhado nos olhos.

Já minaram as vidas,
os vocativos, a natureza
as calçadas e outros laços.
Já desgastaram as palavras,
os encontros e a esperança.

Só no Brasil há mais
de 530 células neonazistas
e sua engrenagem
que manda e mata
com autômatos tentáculos.

Contra fascismos e neofascismos,
Rosal se escreve com rosa
e uma lâmina transparente.
A rosa afia o que vejo;
a lâmina, o que escrevo.

A palavra fascista
é sempre a mesma,
unifônica, repetição
do apagamento alheio,
matéria de manuseio
a serviço de quem cala
o grito de quem morre
por não poder
expressar com liberdade
seu direito a ser quem é.

A palavra-resistência,
seja de lira ou antilira,
se afina e reafirma, sutil
e humanamente multiforme,
inaugurando outra forma de,
com a lâmina-poema, rasgar
a capa de ódio das palavras
para expressar com liberdade
o direito às diferenças.

VENENO DA BONDADE

Maior coragem é a dor,
a nódoa do outro.
Um desenho de ponte,
fisgado numa âncora.

Troco cartas com o soco.
Por trás da luz que dou a ver
guardo estas sombras.
Nelas produzo
o veneno da bondade.

Enquanto morro sempre
impulsiono nascimentos
― faíscas para novos gestos.

MARGENS I

Amar a água,
não pela sede.
Intuir sempre
o pé da fonte
e odiar o riso
que é só alegre.

Cumprir o tudo
desmontando
o nada.
Refazer futuros
sem a luva
do medo.

Nas margens do sonho
moldar, não a realidade
― essa matéria
sem fluxo ―,
mas o curso
de outra nascente.

TODOS/NINGUÉM

Onde não há desejo e rede,
resta o sol sombrio da fome.

Onde todos comem,
ninguém se veste de deus.

Você acabou de ler alguns poemas de O Sorriso do Erro (https://aboio.com.br/produto/o-sorriso-do-erro-eduardo-rosal/), de Eduardo Rosal (https://aboio.com.br/tag/eduardo-rosal).

O Sorriso do Erro (https://aboio.com.br/produto/o-sorriso-do-erro-eduardo-rosal/) é a defesa do erro pelo erro em 42 poemas de Eduardo Rosal (https://aboio.com.br/tag/eduardo-rosal).

  • O Sorriso do Erro – Eduardo Rosal (https://aboio.com.br/loja/produto/o-sorriso-do-erro-eduardo-rosal/) R$ 49,90 Comprar (?add-to-cart=6520)

Capa de O Sorriso do Erro (https://aboio.com.br/produto/o-sorriso-do-erro-eduardo-rosal/) por Leopoldo Cavalcante (https://aboio.com.br/tag/leopoldo-cavalcante).

Natan Schäfer (Ibirama, 1991) é mestre em estudos literários pela Universidade Federal do Paraná e pela Université Lumière Lyon 2. Foi professor do curso de Bacharelado em Artes Visuais da UNESPAR, membro da Psychoanalytische Bibliothek Berlin e tradutor convidado nas residências Looren América Latina (Suíça) e Résidence Passa Porta (Bélgica). É autor de Taquaras (Contravento Editorial, 2022) e tradutor de, dentre outros, Por uma insubmissão poética (Sobinfluência, 2022) e La promenade de Vénus (Venus D’Ailleurs, 2022). Atualmente é responsável pela Contravento Editorial, também assinando a coluna "A Fresta" na página da editora Aboio. Além disso, dá a ver em desenhos, pinturas, escritos e fotografias algo da poesia que lhe atravessa.