Jon Ståle Ritland (https://aboio.com.br/produto-tag/jon-stale-ritland/) é um poeta e oftalmologista norueguês. É autor de três coletâneas poéticas e do ensaio Når det biokjemiske språk inntar litteraturens kropp [Quando a linguagem bioquímica adentra o terreno da literatura]. Jon Ståle Ritland mora em Ålesund.
Traduzido por Leonardo Pinto Silva (https://aboio.com.br/produto-tag/leonardo-pinto-silva/).
chocolate
um pedacinho da Noruega
diz o anúncio
sem mencionar que Colombo trouxe consigo
os grãos de cacau para o outro lado do Atlântico
que os maias foram os primeiros a cultivar o cacaueiro
que a Costa do Marfim é hoje o maior produtor
vacas pastam à beira do caminho para a montanhas
uma barra de chocolate se parte entre os dentes
na cavidade oral um pedacinho derrete
felicidade globalizada
arroz
arroz é sinônimo de comida
em várias línguas asiáticas, a
sustância de metade
da população da terra, todos os sábados
comemos mingau de arroz com canela
e açúcar, uma ilhota de manteiga no meio, na TV
vejo imagens de pessoas famélicas
me pergunto se a porção que comi
não deveria ser de outra pessoa
temendo que um menino
em Sichuan passe fome
por minha causa
brócolis
uma flor por desabrochar, rica em vitaminas
reduz o risco de câncer
uma árvore em miniatura, caso você não goste
coma assim mesmo e cale a boca
fårikål
você sabe que é outono quando o aroma do cordeiro
ensopado com repolho escapa pela brecha da porta da cozinha
o prato nacional norueguês é fácil de
gostar, e o repolho facilita a digestão
o outono também recende a gases
que escapam pelo cós da calça
champanhe
uma alegria borbulhante, ou a irritação
diante da bebida cara desperdiçada sendo
despejada sobre pilotos de Fórmula 1 e ciclistas vitoriosos
ao espoucar uma garrafa de champanhe
celebramos tudo o que vale celebrar:
ano novo, aniversários, vitórias, contratos
o champanhe é do norte da França e traz
consigo minerais do solo, o gás
provém da dupla fermentação
quando a garrafa é aberta com um estouro, serve-se
um paradoxo nas taças, as uvas do líquido mais caro
provêm de um solo pobre
Você acabou de ler uma seleção de poemas de Obrigado pela comida (https://aboio.com.br/produto/obrigado-pela-comida-jon-stale-ritland/) (Editora Aboio, 2024), de Jon Ståle Ritland (https://aboio.com.br/produto-tag/jon-stale-ritland/). Gostou do que leu? Adquira-o clicando aqui. (https://aboio.com.br/produto/obrigado-pela-comida-jon-stale-ritland/)
Mais sobre a obra
Na Noruega, ninguém sai da mesa sem agradecer pela comida. Takk for maten, eles dizem. Ou, em bom português brasileiro, Obrigado pela comida.
Nesta exploração apaixonada pela comida, Jon Ståle Ritland (https://aboio.com.br/produto-tag/jon-stale-ritland/), traduzido por Leonardo Pinto Silva (https://aboio.com.br/produto-tag/leonardo-pinto-silva/), ressignifica os alimentos através de sua poesia. Afinal, como pergunta Joyce Carol Oates: Se comida é poesia, poesia não é comida também?
Para Ana Estaregui (https://aboio.com.br/produto-tag/ana-estaregui/), que assina o posfácio de Obrigado pela comida, pelos poemas de Jon Ståle Ritland “somos levados através dos fiordes, entramos num barquinho a remo no lago Ritland, sentimos o cheiro das enguias defumadas e o aroma acre dos porões escuros onde se maturam queijos enrolados em trapos de linho”.
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Natan Schäfer (Ibirama, 1991) é mestre em estudos literários pela Universidade Federal do Paraná e pela Université Lumière Lyon 2. Foi professor do curso de Bacharelado em Artes Visuais da UNESPAR, membro da Psychoanalytische Bibliothek Berlin e tradutor convidado nas residências Looren América Latina (Suíça) e Résidence Passa Porta (Bélgica). É autor de Taquaras (Contravento Editorial, 2022) e tradutor de, dentre outros, Por uma insubmissão poética (Sobinfluência, 2022) e La promenade de Vénus (Venus D’Ailleurs, 2022). Atualmente é responsável pela Contravento Editorial, também assinando a coluna "A Fresta" na página da editora Aboio. Além disso, dá a ver em desenhos, pinturas, escritos e fotografias algo da poesia que lhe atravessa.