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Mogens

por Jens Peter Jacobsen (trad. Guilherme da Silva Braga)
Arte da capa de Mogens, de Jens Peter Jacobsen (Editora Aboio, 2023) por Luísa Machado.

Jens Peter Jacobsen (1847 – 1885) foi um autor dinamarquês, considerado o fundador da escola naturalista na Dinamarca e botânico.

Guilherme da Silva Braga é doutor e mestre em estudos de literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 2016 foi indicado ao Prêmio Jabuti pela tradução de A Ilha da Infância, romance de Karl Ove Knausgård (Companhia das Letras, 2015).


Era verão, em pleno dia, num canto da cerca. Perto havia um antigo carvalho, e a respeito do tronco poder-se-ia dizer que se torcia em desespero ante a falta de harmonia entre as folhas novas e amareladas e os galhos pretos, tortos e grossos, que acima de tudo se pareciam com o rascunho grosseiro de antigos arabescos góticos. Atrás do carvalho havia arbustos de aveleira com folhas escuras e opacas, e uma folhagem tão densa que não se lhe viam nem os troncos nem os galhos. Acima dos arbustos de aveleira erguiam-se dois bordos alegres de folhas delicadamente recortadas, hastes vermelhas e cachos pendentes de frutos ainda verdes. Atrás dos bordos começava a floresta – uma encosta verde e arredondada, de onde pássaros entravam e saíam como fadas de uma colina exuberante.

Tudo isso era visível a partir da estrada de terra no exterior da cerca. Quem se pusesse à sombra do carvalho, no entanto, de costas para o tronco, e olhasse para o lado oposto – como uma pessoa naquele instante fazia –, veria primeiro as próprias pernas, depois um pequeno trecho com grama curta e viçosa, a seguir um emaranhado de urtigas escuras, depois a sebe de espinheiro-branco com as grandes flores brancas da bela-da-manhã, a escada junto à cerca, uma parte da lavoura de centeio mais além, o mastro da bandeira do magistrado ao longe na colina e por fim o céu.

Fazia um calor sufocante, o ar tremulava e tudo ao redor guardava silêncio; as folhas dormitavam nas árvores, e nada se mexia além das joaninhas nas urtigas e das folhas murchas que se espalhavam pela grama e enrolavam-se com movimentos pequenos e repentinos, como que se encolhessem ante os raios do sol.

E além disso havia o homem sob a copa do carvalho, que bocejava deitado enquanto, melancólico e indefeso, olhava em direção ao céu. Ele cantarolou um pouco, mas logo desistiu; assoviou um pouco, mas também logo desistiu; virou-se mais uma vez e deixou que os olhos se fixassem num velho monte de toupeira, que havia ganhado uma coloração cinza-clara em razão da seca. De repente surgiu uma mancha escura na terra cinza-clara, e a seguir mais uma, três, quatro, muitas – e ainda outras, até que todo o monte acabasse cinza-escuro. O ar estava virado em listras longas e escuras, as folhas acenavam e balançavam e um murmúrio soprou rumo ao Sul; a chuva pôs-se a cair.

Tudo cintilava, luzia e chapinhava. Troncos, galhos, folhas, tudo brilhava de umidade; cada pequena gota que caía na terra, na grama, na escada junto à cerca, no que quer que fosse, dividia-se e espalhava-se em mil pérolas delicadas. Pequenas gotas dependuravam-se ao longe e transformavam-se em gotas maiores, pingavam aqui, reuniam-se a outras gotas, tornavam-se pequenos regatos, corriam para longe em diminutos sulcos, caíam em grandes buracos e saíam de outros, pequenos, zarpavam levando consigo terra, lascas de madeira e pedaços de folhas, colocavam-nas no chão, faziam-nas flutuar, giravam-nas e tornavam a abandoná-las mais uma vez no chão. Folhas que não estavam mais juntas desde que haviam brotado foram reunidas pela água; o musgo, que fora reduzido a nada em razão da seca, reavivou-se e tornou-se macio, crespo e úmido; e as folhas cinzentas, quase transformadas em snus, abriram-se com a exuberância do brocado e o brilho da seda. As belas-da-manhã encheram-se até a borda, brindaram umas com as outras e derramaram água na cabeça das urtigas. As gordas lesmas pretas da floresta rastejaram de bom grado e lançaram olhares de reconhecimento em direção ao céu. E o homem? O homem tinha a cabeça a descoberto, no meio da chuva, e deixava que as gotas lhe escorressem pelo cabelo e pelas sobrancelhas, pelos olhos, pelo nariz e pela boca; estalava os dedos para a chuva; de vez em quando erguia as pernas, como se pretendesse dançar; por vezes balançava a cabeça quando a água se acumulava em demasia nos cabelos; e cantava a plenos pulmões, sem nem ao menos saber o que cantava, tamanho era o encanto com a chuva:

Havde jeg, o havde jeg en Dattersøn, o ja!
Og en Kiste med mange, mange Penge,
Saa havde jeg vel ogsaa havt en Datter, o ja!
Og Huus og Hjem og Marker og Enge.

Havde jeg, o havde jeg en Datterlil, o ja!
Og Huus og Hjem og Marker og Enge,
Saa havde jeg vel ogsaa havt en Kjærrest, o ja!
Med Kister med mange, mange Penge.

[Se eu tivesse, ah, se eu tivesse um neto, ah sim,
e um grande baú cheio de dinheiro,
então eu também teria uma filha, ah sim,
e uma casa com pátio e terreiro.

Se eu tivesse, ah, se eu tivesse uma filha, ah sim,
e uma casa com pátio e terreiro,
Então eu também teria uma noiva, ah sim,
com enormes baús de dinheiro.]

Naquele momento o homem estava lá, cantando, porém entre os arbustos escuros das aveleiras surgiu a cabecinha de uma menina. A ponta de um longo xale de seda vermelho havia se prendido a um galho que se estendia para além dos outros, e de vez em quando uma mão surgia e tentava puxar aquela ponta, sem no entanto obter nenhum resultado a não ser um rápido chuvisco que caía do galho e de seus vizinhos. O restante do xale estava firmemente estendido sobre a cabecinha da menina, a esconder-lhe metade da testa e a ensombrecer-lhe os olhos, e de repente escorregou e perdeu-se em meio às folhas, porém logo reapareceu como uma grande roseta sob o queixo dela. O rostinho da menina tinha uma expressão de surpresa, mas parecia estar prestes a rir; o riso já estava nos olhos. E de um momento para o outro o homem que estava na chuva avançou dois passos para o lado, viu a ponta vermelha, os grandes olhos castanhos, a boquinha surpresa e aberta; e no mesmo instante assumiu uma postura constrangida ao olhar surpreso para si mesmo; porém ao mesmo tempo um gritinho soou, o galho protuberante sacudiu com um movimento brusco, a ponta vermelha desapareceu num piscar de olhos, o rosto da menina sumiu e logo um farfalhar cada vez mais distante fez-se ouvir por trás dos arbustos de aveleira. Então ele pôs-se a correr. Não sabia por quê, não pensou em nada; o júbilo causado pela chuva mais uma vez tomou conta dele, e ele pôs-se a correr atrás daquele rostinho de menina. Não lhe ocorreu que estava a correr atrás de uma pessoa: ele corria somente atrás de um rostinho de menina. Ele correu, o farfalhar soou à direita, soou à esquerda, à frente, atrás, ele farfalhou, ela farfalhou, e todo esses sons e a própria corrida insuflaram-lhe o talante, e ele gritou: “Diga ‘cuco’ onde você estiver!”. Ninguém disse nada. Ao ouvir o próprio grito o homem ficou um pouco sem jeito, mas continuou a correr; e então surgiu-lhe um pensamento, um único pensamento, e ele balbuciou enquanto corria: “O que você vai dizer para ela? O que você vai dizer para ela?”. Ele se aproximou de um grande arbusto; lá ela havia se escondido, pois ele vira um pedaço do vestido. “O que você vai dizer para ela? O que você vai dizer para ela?”, ele tornou a balbuciar, ainda enquanto corria. Ele se aproximou do arbusto, fez uma curva repentina e seguiu correndo enquanto balbuciava as mesmas palavras, chegou a uma estrada larga, correu mais um bocado, parou de repente e desatou a rir, andou mais um pouco em silêncio com um sorriso no rosto e então tornou a rir com todas as forças; e assim fez ao longo de toda a extensão da cerca.


Era um belo dia de outono, as folhas caíam por toda parte e a estrada que levava ao lago estava coberta pelas folhas amarelas de olmos e bordos; aqui e acolá também havia folhas mais escuras. Era agradável e tranquilo andar por aquele tapete de pele de tigre e ver as folhas caírem aos poucos, como a neve: as bétulas pareciam mais belas com os galhos expostos, e a tramazeira mostrava-se imponente com os cachos pesados de frutos vermelhos. E o céu estava muito, muito azul, e a floresta parecia ainda maior, porque era possível ver por entre os troncos. Ademais, logo tudo aquilo – a floresta, o céu, a terra, o ar livre, tudo – daria vez à época das lamparinas, dos tapetes e dos jacintos. E por esse motivo o magistrado de Cabo Trafalgar e a filha caminhavam em direção ao lago, enquanto a carruagem aguardava-os em frente à casa do delegado.

O magistrado era um amigo da natureza; a natureza era muito especial; a natureza era um dos mais belos adornos da existência. O magistrado protegia a natureza, e a protegia contra tudo aquilo que era artificial; para ele, jardins não eram mais do que natureza destruída, e jardins com estilo eram a natureza levada à insanidade; não havia estilo na natureza, porque a sabedoria de Deus havia feito da natureza uma coisa natural – nada além de natural. A natureza era indômita, intocada; mas com o pecado original a civilização havia chegado para os homens; e naquele momento a civilização havia se tornado uma necessidade, porém seria melhor se não fosse assim: o estado natural era totalmente distinto, totalmente distinto. O magistrado não teria nada contra a necessidade de vestir uma pele de cordeiro e ter de atirar em lebres e galinholas e batuíras e lagópodes e veados e javalis para obter alimento. Não: pois o estado natural era uma pérola, literalmente uma pérola.

O magistrado e a filha seguiram em direção ao lago. As águas já haviam tremeluzido por entre os galhos, mas revelaram-se por completo naquele instante, quando os dois fizeram uma curva no ponto onde se ergue o grande choupo. Lá estava ele, com grandes extensões de água espelhada e línguas cinzentas e irregulares em movimento, com faixas lisas e faixas agitadas, enquanto a luz do sol repousava no liso e cintilava no agito. O lago atraía o olhar, conduzia-o pelas margens a curvas suaves e linhas interrompidas, levava-o a fazer uma volta no promontório verdejante e por fim soltava o olhar, para então perder-se em grandes baías, levando consigo os pensamentos. Um veleiro! Será que havia veleiros para alugar?

Não, não havia, disse um pequeno sujeito que morava em uma casa branca e atirava pedrinhas na água. Então não havia barcos? Ora, claro que havia; o moleiro tinha um barco, mas não estava à disposição; o moleiro não queria saber de nada disso, e Niels, o filho do moleiro, quase havia levado uma surra na última vez que o havia pegado, de maneira que aquilo estava fora de cogitação; mas havia o senhor que morava na casa de Nikolai, o guarda-florestal. Ele tinha um barco excelente, preto em cima e vermelho embaixo, e dispunha-se a emprestá-lo para toda a gente.

O magistrado e a filha foram à casa do guarda-florestal Nikolai. Ainda longe encontraram uma menina que morava na casa de Nikolai e pediram que corresse de volta à casa e perguntasse se o senhor da casa estaria disposto a recebê-los. A menina correu como se fosse caso de vida ou morte, usando os braços e as pernas, e por fim chegou à porta, colocou um dos pés no patamar elevado para ajeitar a liga e a seguir entrou correndo; voltou logo em seguida com duas portas abertas às costas e gritou, antes mesmo que estivesse de volta ao patamar, que o senhor da casa haveria de recebê-los muito em breve, e por fim sentou-se ao lado da porta, apoiada contra a parede, e pôs-se a olhar para os recém-chegados.

O senhor da casa apareceu e revelou ser um homem alto e forte de vinte e dois anos. A filha do magistrado assustou-se, pois nele reconheceu o homem que havia cantado em meio à chuva. Mas o homem tinha uma aparência muito estranha e distante; dava a impressão de ter deixado para trás um livro, pois era essa a impressão causada pelos olhos, pelos cabelos e pelas mãos: a de que não sabiam onde estavam.

A filha do magistrado fez uma mesura tímida e exclamou, “Cuco”, e a seguir deu uma risada.

“Cuco?”, perguntou o magistrado.

Era aquele rosto de menina; o sujeito enrubesceu e tentou falar, porém logo o magistrado fez uma pergunta sobre o barco. Claro, o barco estava à disposição. Mas quem haveria de remar? Ele próprio, respondeu a senhorita, pouco se importando com o que o pai diria; para ela era indiferente causar inconveniência ao senhor da casa, porque ele mesmo não se importava em causar inconveniência a outras pessoas. Depois todos foram até o barco enquanto as explicações necessárias eram dadas pelo caminho. Os três já estavam no barco, afastados da margem, quando a senhorita enfim se acomodou e encontrou uma oportunidade para falar.

“Bem”, disse ela, “com certeza o senhor estava lendo um livro muito erudito quando eu cheguei e aos crocitos fiz um convite para velejar?”

“Remar, a senhorita quer dizer. Erudito! Era a ‘História do cavaleiro Peder com a chave de prata e a bela Magelone’.”

“Escrito por quem?”

“Por ninguém; esse tipo de livro nunca é escrito por ninguém. ‘Vigoleis e a roda de ouro’ também não foi escrito por ninguém, e o mesmo se dá com ‘Bryde, o caçador’.”

“Eu nunca ouvi esses nomes antes.”

“Por favor chegue um pouco mais para o lado, senão o barco aderna. Ah, não! Faz sentido, porque esses não são livros sofisticados, apenas livros vendidos nas feiras por senhorinhas.”

“Que estranho; o senhor tem por hábito ler esses livros?”

“Por hábito? Eu não leio muitos livros, e os que mais gosto são aqueles que contêm índios.”

“Mas e quanto à poesia? Oehlenschläger, Schiller e os outros?”

“Bem, eu os conheço; tínhamos um armário inteiro desses livros em casa, e a srta. Holm – a dama de companhia da minha mãe – lia-os para nós ao fim do desjejum e também à tarde; mas não posso dizer que eu gostasse deles – porque não suporto versos.”

“Não suporta versos! – E o senhor disse ‘tínhamos’; a sua mãe já não é viva?”

“Não, e meu pai tampouco.”

Essa frase foi proferida em um tom sóbrio e comedido, e a conversa cessou por um tempo, de maneira que todos os rumores causados pelos movimentos do barco sobre a água podiam ser claramente ouvidos. A senhorita quebrou o silêncio:

“O senhor gosta de pinturas?”

“Pinturas de altar? Ah, não sei.”

“É, ou ainda outros quadros. Paisagens, por exemplo?”

“Também pintam essas coisas? Ora, claro que pintam, eu sei muito bem.” 

“O senhor está querendo me fazer de boba?”

“Eu? Bem, sem dúvida um de nós está querendo fazer isso.”

“Então o senhor não é um estudante?”

“Estudante! Como eu seria um estudante? Não, eu não sou nada.”

“Bem, uma coisa ou outra o senhor tem de ser. Afinal, o senhor deve fazer uma coisa ou outra.”

“Por quê?”

“Ora, porque – porque todo mundo faz.”

“A senhorita faz uma coisa ou outra?”

“Ah! Mas o senhor não é uma dama.”

“Não, Deus me guarde!”

“Obrigada!”

Ele parou de remar, ergueu os braços, olhou-a bem nos olhos e disse:

“O que a senhorita quer dizer com isso? Por favor, não fique brava comigo; eu sou um sujeito meio esquisito. A senhorita não entenderia. Deve imaginar agora que, uma vez que uso roupas sofisticadas, eu seja também um homem sofisticado. O meu pai era um homem sofisticado, e disseram-me que sabia de muitas coisas – e devia mesmo saber, porque foi juiz do condado. Eu não sei de nada, porque fazia tudo com a minha mãe, e assim não me preocupei em aprender as coisas que se aprendem na escola, e mesmo hoje não as sei. Ah, eu gostaria que a senhorita tivesse visto a minha mãe; era uma mulher muito, muito pequena, e aos treze anos eu já conseguia levá-la no colo até o jardim. Ela era muito leve; nos últimos anos, com frequência estava nos meus braços para uma volta no jardim ou no parque. Posso vê-la com as roupas escuras e os rendados largos…”

Ele pegou os remos e pôs-se a remar com vontade. O magistrado preocupou-se ao ver a água tão alta na popa, e sugeriu que voltassem à terra; e assim o barco foi posto a caminho.

“Diga-me”, perguntou a senhorita quando o ritmo das remadas diminuiu um pouco, “o senhor vai com frequência à cidade?”

“Nunca estive lá.”

“Nunca esteve lá! E no entanto o senhor mora a apenas trinta quilômetros de distância.”

“Eu nem sempre moro aqui. Moro em todos os lugares possíveis desde que a minha mãe faleceu, mas no próximo inverno vou à cidade aprender a medir e calcular.”

“Matemática?”

“Não, marcenaria”, ele disse aos risos. “Ouça bem o que eu vou dizer: quando eu for maior de idade, pretendo comprar uma chalupa e velejar até a Noruega, e nessa hora vou ter de saber fazer cálculos para a alfândega e o desembaraço aduaneiro.”

“O senhor realmente tem vontade de fazer isso?”

“Ah, o mar é magnífico, velejar é uma vida e tanto – mas agora chegamos ao trapiche.”

Mogens atracou o barco; o magistrado e a filha desceram a terra depois de fazê-lo prometer que os visitaria em Cabo Trafalgar. Depois pai e filha seguiram em direção à casa do delegado, mas ele continuou a navegar pelas águas do lago. Na altura do choupo ainda era possível ouvir as remadas.


Você acabou de ler alguns trechos de Mogens, de Jens Peter Jacobsen.

Mogens é o segundo título da Coleção Norte-Sul. Parceria entre a Aboio e o tradutor Guilherme da Silva Braga, a Coleção Norte-Sul trará uma gama de autores e autoras de países nórdicos (ou que escreveram em línguas nórdicas) ainda pouco conhecidos pelo público brasileiro.


Capa de Mogens por Luísa Machado.

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