3 poemas de Menahem Wrona

por Menahem Wrona
Foto para ilustrar os poemas de Menahem Wrona.

Menahem Wrona nasceu no último inverno do milênio gregoriano, em 1999. Cresceu em Itu, São Paulo, cidade onde os objetos perdem a escala, e há de se ter ouvidos grandes. Aos dez anos, saiu da escola e entrou no vazio – nunca se recuperou. Desformado, mudou-se para Berlim aos dezoito anos para seguir uma graduação em ‘Humanidades, Artes, e Pensamento Social,’ e lá plantou flores na lápide de poetas, filósofos, místicos, e pintores. Mestrando em Estudos Clássicos pela Universidade de Coimbra, hoje vive no Porto, Portugal, onde é co-fundador de um programa de residências artísticas e de investigação filosófica, buscando entrelaçar sabedorias originárias brasileiras, conhecimentos ancestrais, e o mundo considerado clássico.


Rito

Eu sou um rito de passagem.
O tempo invoca-me, e aos poucos
Morre as secas folhas sob a tarde:
O fruto aprende ao nascer.

Levo o corpo às ruas,
Eros leva à alma,
O corpo almafica,
A alma incorpora,
A lua é a razão da noite
E ser é um rito de horizonte
Que apenas a raiz vê.


De Noite, o Ar Frio

Já há tempos não sentia essa forma de noite.
Tão fria nos ossos a dor de saudade adocicada
Hóspede no cemitério do vivido, e tantas flores entre lápides
Que dá calma.

Cidade d’onde afoguei sete mares cinzas…
Os olhos com que vejo espelham ondas tão cansaço
E no horizonte sem-saída do metrô imundo
Cronometrado ao segundo
Há uma eclipse que é da cor do pranto
E um soluço alegre nascido do fundo da garganta
Como um coral de anjos caídos
Comendo as próprias asas
Para sobreviver
E gostando.


Fim da Década

Lua vindoura do inverno:
Não há mais eu para chamar-te.
Passei sob as águas oceânicas do continente
E vejo-te hoje
– é verão.

Os seres que andam e vestem
Frases e verbos e êxtases,
Vivem, lua! Vivem!
Como eu.

Os lagos da infância eruptam indizíveis,
Vejo-os na sombra de um amanhã
E sou, aquém do que é em mim,
Filho dos humanos
E dos dias.

Leva-me, leva-me embora
Ao amanhã que me fez.
Mas deixe-me saborear os momentos,
O amor de minha mãe,
Os gestos pequenos,
Os abraços de minha irmã
Que entende, desentende,
E tem ainda uma vida por entender.

As estrelas são rosas brancas,
Impermanências sólidas de um jardim:
O céu está florido esta noite,
As nuvens passam com o vento,
Os planetas originam-se: raízes-tempo
E a galáxia é uma terra fértil.
No badalar do eterno
O tempo é-te, lua
E é também, mas tão pouco
Em mim.

Os outros animais vêem-nos,
Entendem-nos: sabem.
Infantes miram-nos com olhos molhados
Na compreensão assombrosa do que é-nos
Anterior.

Tenho medo da verdade;
Tenho medo da verdade que é,
E da verdade que é nos outros.
Olho aos lados para compreender o instante
E entre o segundo e o minuto
Apenas a eternidade é mãe de algum sentido;
É meia noite.

Vou parir coisas belas!
Vou parir coisas bobas:
Hei de ser, mas não sei o que
E tenho medo do que sou.
Ando pelas ruas e janto batatas.

O futuro: É-nos para trás?
O big bang não foi começo,
Nada nunca começou…
Origina-se o instante
E na morte há outra origem.
Gera, germina, gira mundo:
Faz-se em mim.

Amanhã acaba a década!
Amanhã o sol raiará igual,
Amanhã é ontem, meu Deus,
Amanhã é ontem.

Sei que tudo já passou
Sei que tudo está passando
E sei inclusive, que o futuro é incerto
E nem por isso ainda não aconteceu.
Ah, deixe-me! Sou mero homem,
E nem isso sei ser.
Talvez para o céu também
A terra seja um sonho distante.

De mãos vazias
Dou-te as palavras,
Dou-te porque é tudo que tenho,
Dou-te porque é tudo que somos,
O que revela e divide
O eu do você.
Palavras são tinta,
Palavras são corpos,
Palavras são pontos,
Doces mantos sobre o que quer ser dito,
E eu ainda não aprendi a falar.


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