Sobre
A prosa de Andreas Chamorro, contista veterano, desabrocha ao ganhar as páginas de uma narrativa de maior fôlego.
Marcada pelo signo da madona contra o qual se rebelou quando ainda era criança, Maria sempre teve a convicção de que não seria mãe. No entanto, uma viagem com os colegas de trabalho e o breve envolvimento com um deles num areal qualquer de Ubatuba põem suas certezas em xeque.
Ela – professora de filosofia, sisuda e racional – sabe muito bem qual decisão deveria tomar, mas as dúvidas se multiplicam junto às células em seu ventre; o ente vira embrião, depois feto. A perspectiva da maternidade não planejada nem desejada empurra a personagem para dentro de si mesma na busca por respostas junto ao seu ser-mulher e seu ser-filha.
Transitando na vastidão entre sua liberdade de escolha e instintos ancestrais, Maria é uma protagonista complexa que instiga simpatia e aversão na mesma medida, um retrato fiel das dores humanas inevitáveis mesmo para quem tem nome de santa.
Andreas Chamorro
Andreas Chamorro nasceu em 1994, publicou as coletâneas de contos Divindades Solitárias (Editora Kotter, 2021) e A orgia perpétua ou o relatório de Pimenta (Editora Pátua, 2022). Vive em São Paulo. antes que o fruto caia (Aboio, 2024) é seu primeiro romance.
Trecho
O que aconteceu tem um peso diferente porque carrego esse nome. Este outro aqui não obteve nomeação por parte de minha pessoa. Mal entendi quem é quem neste momento. Mal entendi se este outro também está na sala comigo. Por isso quis tirar o Gabriel da jogada. Compete a mim, à mulher que sinto que sou, lidar com isso completamente sozinha. Talvez seja minha ancestral principal alguma primata fêmea quadrúpede que zelava pela procriação sozinha, dentro da caverna, enquanto o macho ia sendo macho do lado de fora.
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