SOBRE
As crônicas de Anthony Almeida são um registro sensível de travessias – geográficas, afetivas e literárias. Antes de se reunirem neste livro, elas perambularam por aí em rotas variadas; ocuparam páginas de jornais, habitaram o espaço virtual de redes sociais e até encontraram leitores em feiras e oficinas, distribuídas em cordéis. Entre inéditos e revisitados, os textos carregam a marca de um período de movimento constante, de 2015 a 2020, quando o autor dividiu seus passos entre Pernambuco e São Paulo, vivendo com um pé em cada lado dessa ponte.
No conjunto, as crônicas formam um mosaico de histórias e sensações, capturando o olhar atento de quem transita entre culturas e paisagens. Da aridez do interior paulista ao calor pulsante das ruas de Caruaru e Recife, o autor cria um percurso literário íntimo, mas universal. Suas palavras nos convidam a caminhar junto, sentindo as nuances de cada lugar, reconhecendo-se nos detalhes, e refletindo sobre o que significa estar entre mundos. Um pé lá, outro cá é uma leitura para aqueles que sabem que viver é atravessar.
ANTHONY ALMEIDA
Professor, geógrafo e cronista, Anthony Almeida nasceu em 1989, em Caruaru/PE, e residiu em Presidente Prudente/SP e Presidente Venceslau/SP, onde lecionou. É graduado em licenciatura em Geografia, pela UFPE, campus Recife, e mestre em Geografia, pela Unesp, campus Presidente Prudente. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Geografia Literária na UFPE, campus Recife, sobre o tema ‘Geograficidades do mundo vivido-escrito na crônica brasileira’. É editor-adjunto da RUBEM — Revista da Crônica e foi cronista do Jornal Tribuna Livre e da Revista Mirada. Este é o seu livro de estreia.
TRECHO
Trinta-quarenta passos depois, eu encontro outros olhos conhecidos. Olhares colegas, também fitando minha calça de homem sedentário. Um deles questiona o meu rumo, não apenas com a visão. Vou no mercado, nada demais. Atendidos, voltam para a corrida. Não, não vou, estou apenas dando uma volta à toa, contemplando olhos transitórios. Não sou de mentir, a resposta foi automática, meu cérebro deve ter calculado que pegaria mal dizer que eu caçava pupilas por aí.
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