poeminha brasileiro

poeminha brasileiro

por Mauro Paz

24 de setembro de 2024

PLANALTO

Ao pular da nau,
em São Vicente,
o condenado João Ramalho
ganhou a nova chance
de Adão.

Subiu o planalto.
Desposou Bartira.
Foi pai mestiço.
E renasceu Piratininga,
filho de Tibiriçá.

Na cruz de Anchieta,
reencontrou o pecado.
Desde então,
tudo queima
por aqui.

POEMINHA BRASILEIRO

É tanto céu, tanto mar
Tanto barquinho que vai
Tanto barquinho que volta
Tanta chibata que estala
Neste porto em que somamos
Mais de duzentos milhões

quase todos pretos
Dando porrada na nuca
de malandros pretos
De ladrões mulatos
e outros quase brancos
Tratados como pretos

Todos ligados
na mesma emoção
Pra frente, vamos
Todos juntos, vamos
Despachar, só nesse ano,
mais 600 mil irmãos

SOBRE O MEDO E OUTRAS ASSIMETRIAS

Quem tem
medo
do Paulo?

Que horror é esse
a um professor

delgado
centenário

que nem
respira mais
entre nós?

Quem teme
Paulo
não aprendeu

o alfabeto
do tijolo,
panela cheia

não cavoca
o chão com
a enxada

Nem sabe
o cheiro
que nosso trabalho tem

Quem teme
o Paulo
acredite

também teme
a rua
o mato
o tambor

a moça
que dança

E treme
só de lembrar

que o sol
acorda
para todos.

Foto de Luísa Machado (https://aboio.com.br/tag/luisa-machado/).