meus olhos são vícios do fim
veem adiante — o desenlace e a dor —
e no meu vocabulário da solidão
distância e abandono são duas palavras que cabem
dentro do medo (embora ele só tenha quatro letras)
***
“está tudo bem”, você diz, vocês dizem
enquanto as sombras do mistério produzem
suas formas por aí — silenciosas, nas pontas dos pés
encarcerando o presente num bloco de cimento maciço
***
sepultando a alegria em fotografias de dentes abertos
as cores de carnaval derretem nas chuvas de barro
e o meu coração amolece batendo dentro do temporal
(o rio já é mar quando se encontra com ele,
os barcos precisam das cordas para não irem embora)
faz-se o desassossego — escrevo meu nome num canto da areia
***
e então peço que alguém chame por ele
Ivana Fontes nasceu em 1997 em Aracaju, Sergipe. É mestranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, e já publicou poemas nas revistas Aboio e Ruído Manifesto. Radiografia das árvores (Cachalote, 2025) é seu primeiro livro de poesia.