A Fresta #12 – Alexandrian em cinco duplas (PT. IV)

por Natan Schäfer
Desenho de Ariyoshi Kondo para ilustrar a coluna de Natan Schäfer sobre Sarane Alexandrian. A ilustração mostra um morcego alçando voo.

A Fresta é uma coluna quinzenal dedicada às realizações do movimento surrealista e seus entornos.


Alexandrian em cinco duplas: uma quina sobre o escritor Sarane Alexandrian

PARTE VI:
“Como tentar o impossível em literatura” seguido de “Abanando e abandonando: quem dá mais?”

Como tentar o impossível em literatura

Quando eu ainda estava começando, considerava a mais extraordinária das empreitadas literárias a de um escritor que, como desafio, ao invés de escrever sequer uma linha de sua própria cepa, se contentaria em realizar os melhores projetos que grandes escritores do passado deixaram inacabados. Este homem teria publicado sob o pseudônimo Abwyz, formado pelas duas primeiras e as três últimas letras do alfabeto, de modo a significar que tomava a literatura ao pé da letra.

Eis aqui uma amostra daquilo que poderia ter sido a produção de Abwyz.

Enquanto romancista teria escrito vários romances a partir das indicações de Honoré de Balzac no álbum Pensamentos, enredos e fragmentos. O mais importante deles seria O Fim do mundo, desenvolvendo o seguinte tema: “Uma vez que se fixou a era do fim do mundo, aquilo que se segue a isso… Os avaros abrindo seus cofres, todas as relações sociais mudadas, gente se batendo, se matando, um tuberculoso tirando sarro de um homem saudável. — Orgia generalizada. — Não há mais máscaras”. A seguir, Abwyz faria O Duelo com o desconhecido, contando “o duelo através de meios desconhecidos” no qual se envolvem um jovem rapaz e o sedutor da irmã do primeiro. Eles decidem lutar até à morte, mas não com pistola ou espada: “Ambos conseguem matar um ao outro, um através de uma mulher, o outro com veneno”. Abwyz ainda trabalharia sobre dois projetos escabrosos de Balzac, O Amor no harém, história de uma paixão sáfica no oriente: “Uma mulher que ama outra e tudo que faz para não deixá-la se entregar ao seu senhor”; e A Mãe, já prevendo o complexo de Édipo: “Uma criança de doze anos apaixonada por sua mãe e a mãe que se mata”.

Em seguida, Abwyz se tornaria o autor de Banha de urso, romance frenético anunciado pelo lobisomem Petrus Borel nas revistas românticas de sua época e sobre o qual não sabemos nada além do título. Ele então continuaria com O Folhetim do céu, romance astronômico de Théophile Gautier que deveria ter sido publicado como folhetim no jornal Le Moniteur e por conta do qual Gautier contemplava as estrelas todas as noites com seu telescópio no terraço de Neuilly. O bom Théo renunciou ao projeto devido a dificuldade de escrevê-lo: ele conferia sentimentos humanos aos planetas Júpiter, Marte e Vênus, e supunha que eles mantinham relações siderais que reconstituíam aquelas das divindades de mesmo nome na mitologia.

Abwyz executaria diversos enredos esboçados por Gustave Flaubert: A floresta das mulheres (“Mulheres-árvores. Os braços e cabelos sendo os galhos”); As loucuras de amor, se passando numa “Ásia fantástica” e confrontando três homens apaixonados pela mesma mulher; O juramento dos amigos (tendo por herói “um comerciante fechado que faz uma grande fortuna”); e, sobretudo, A espiral, que deveria entrelaçar sonho e realidade de maneira pré-surrealista.

Excelente autor dramático, Abwyz comporia todo o teatro projetado por Stendhal a partir dos vagos roteiros deixados por este último: Os quiproquós (obra da qual Stendhal faz o plano em 1801, depois acrescentando: “Assim como está ela não vale porra nenhuma”); A descida a Quiberon, peça em três atos “absolutamente do mesmo gênero que os dramas históricos de Shakespeare” (pondo em cena Luís XVIII e Pitt[1]); suas comédias em cinco atos e em versos: O filósofo apaixonado, Pâmela, A coquette corrigida, O sedutor, A verídica, O homem do mundo, e a “bela comediazinha estilo delicada”, A mulher que se entedia; assim como os três atos em prosa de O homem que temia ser governado. Todos estes projetos apenas foram indicados por Stendhal em umas poucas linhas.

Ensaísta, Abwyz redigiria o Tratado do incômodo dos cômodos que o arquiteto bousingo[2] Jules Vabre jamais realizou, ainda que sempre falasse dele aos seus amigos Jeunes-France[3]. Abwyz conheceria um estrondoso sucesso com Hipóteses, a série de utopias sobre a qual Renan, no prefácio aos seus Diálogos filosóficos, disse: “O meio mais enérgico de salientar a importância de uma ideia é suprimi-la e mostrar o que o mundo se torna sem ela. Espero um dia aplicar de maneira grandiosa este modo de exposição filosófica em um livro que denominarei Hipóteses e no qual esboçarei sete ou oito sistemas de mundo, sendo que em cada um deles faltará um elemento capital. Com isso o papel do elemento faltante será extraordinariamente ressaltado”.

Além disso, Abwyz escreveria o ensaio irrealizado de Paul Valéry, Gladiador ou Tratado de treinamento do espírito, mostrando como poderíamos treinar o cérebro feito um cavalo de corrida, e comportando toda a arte de “adestrar o animal Linguagem, e de levá-lo até onde ele não tem o costume de ir”; e a História e Filosofia da engenhosidade, que o mesmo Valéry catalogava “dentre os livros realmente indispensáveis e que ninguém vai fazer”.

Como poeta, Abwyz começaria compondo as Elegias e as Bucólicas em versos clássicos que André Chénier não teve tempo de escrever, embora já tivesse estabelecido seu plano em prosa, por exemplo, Que triste coisa é o amor (“Ah! como esta moça que vejo todo dia é bela! Descrição…”); Sozinho na floresta (o solitário desgostoso do mundo que, ao encontrar uma cavaleira na floresta, se apaixona por ela e cobiça seu cavalo: “Porque não sou eu quem carrega carga tão bela!”); Aquiles na beira do mar; A bela de Scio (“Seu amante morreu… ela ficou louca… ela correndo pelas montanhas”). Depois disso, Abwyz embarcaria nos grandes poemas filosóficos dos quais Alfred de Vigny, em seu Diário de um poeta, traçou os planos para si mesmo, como O ópio, no qual queria expressar a seguinte ideia: “Somos todos fumantes de ópio no âmbito moral. Nos embriagamos de crenças mentirosas”.

Além disso, Abwyz ainda iria compor uma coletânea intitulada Melancolia, comportando, impecavelmente executados, todos os “poemas por fazer” que Baudelaire listou em seus papéis, os subdividindo em “coisas parisienses”, “onirocríticas”, “poemas noturnos”, e com os respectivos títulos por ele previstos: Elegia dos chapéus, Reproches de um retrato, Autocorno ou incestuoso, Prisioneiro num farol, etc.

Abwyz teria uma obra erótica na qual estariam incluídos Os dias de Florbelle (o grande romance do Marquês de Sade queimado em Charenton, mas cujo plano foi conservado); O livro obsceno,que Edmond e Jules Goncourt queriam fazer a partir de anedotas de bordel; e A negra apaixonada, de Apollinaire (romance citado por catálogos clandestinos e que o próprio Louis Perceau[4] buscou em vão).

Enfim, ao chegar ao término da carreira, Abwyz escreveria suas Memórias, que seriam naturalmente Memórias falsas a partir da vida de um autor que não deixou as suas. Ele se basearia, por exemplo, nos Diários íntimos de Benjamin Constant, que transporia para o século XX modificando os nomes próprios. Assim, Abwyz contaria que em 1934, aos dezenove anos, foi amante da romancista Rachilde, então com sessenta e quatro anos de idade (alusão às relações do jovem Constant com a romancista Madame de Charrière[5]). A história da ligação de Abwyz com Marguerite Yourcenar[6] (que ele apelidaria de Guite) seria calcada sobre a de Benjamin Constant com Madame de Staël[7] (que ele chamava de Minette). Nosso contemporâneo evocaria ainda seu amor sem esperança por Brigitte Bardot, da mesma maneira que o escritor liberal falava do seu por Madame Récamier[8]. Uma vez que a Academia Francesa preferiu eleger Viennet[9] (você sabe quem é?) ao invés de Benjamin Constant, Abwyz relataria como, de modo similar, concorreu contra Jean Mistler[10], que a Academia convidou a tomar posse em seio ao invés dele.

Francamente, não acham que, uma vez concluída sua obra, Abwyz bem que mereceria ser condecorado com a medalha de salvação das Aparências (alta honraria que o governo atual deveria inaugurar), como restaurador dos monumentos literários perdidos?

Sarane Alexandrian

Abanando e abandonando: quem dá mais?

Mar revolto

produz um canto —

ainda me espanto.

Felipe Moreno, RÉS | CHÃO

Com o advento e a disseminação dos computadores pessoais, da internet e, consequentemente, das plataformas online de publicação, realizar e pôr em circulação materiais impressos, como livros e revistas, deixou de ser resultado de uma exigência para se tornar fruto de uma escolha. Consequentemente, a opção pelas mídias usualmente denominadas “analógicas” passou a manifestar com frequência uma visão de mundo, cuja substância e justificação nem sempre são fáceis de apreender. Isto é: afinal de contas, por que seguimos imprimindo expressões em papel?

Com a transformação dos meios de produção e de certas estruturas sociais e de mercado que sustentavam a ampla circulação de impressos, a distribuição passou a ser um dos grandes gargalos enfrentados pelos que escolheram conservar o caráter analógico da letra, inscrevendo-a em um suporte tátil[11]. Para contornar o problema, quando as bancas de revistas e livrarias entram em declínio e as distribuidoras estreitam as portas, são as feiras que assumem o protagonismo.

Hoje poderíamos seguir falando, como propunha a Biblioteca Nacional em 2011, em um “circuito de feiras” que, depois de pouco mais de uma década desde sua nítida configuração, parece ter encontrado um lugar no mercado, criando um nicho que segue capaz de atrair um público, às vezes disposto a trocar uma parcela de seu dinheiro pelo fruto de um trabalho. Depois de dividir este nicho em, por um lado, feiras de recorte mais marcadamente institucional, como a da USP e a FLIP, e por outro as voltadas sobretudo à “cultura gráfica independente”, como a Feira Plana e Miolos, caberia ainda perguntar, com o argentino Fernando de Leonardis em seus “apontamentos para voltar do futuro”[12], quais seriam os processos, fins e agentes que determinam o público, o modo de circulação e outros elementos do mercado editorial autodenominado “independente”; e, além disso, como poderíamos localizá-los em um objeto analisável e sob um conceito mais bem definido do que a etiqueta “independentes”. Pois, afinal de contas, independentes de que, e de quem[13]?

Uma vez que não disponho nem de dados nem de formação para analisar o fenômeno de um ponto de vista histórico e socioeconômico — e assim propor respostas a perguntas como: “as editoras independentes são uma expressão do neoliberalismo ou uma resposta a ele?” —, caso já não tenham sido respondidas, fica o convite para que aqueles que se sentirem interessados e autorizados a discorrer sobre o assunto, desempenhem a tarefa[14] ou sinalizem trabalhos. É possível que uma análise desta ordem contribua para abrir caminho rumo a outras relações analógicas e correspondências, inclusive aquelas que no momento são utópicas e impensáveis. Da minha parte, me limito a evocar como emblema uma anedota recente que diz respeito a uma feira: a Estopim ocorrida em Curitiba em 2023.

Foi num dia frio e chuvoso que minha namorada e eu fomos fazer parte do público da Feira Estopim. Embora não sejamos naturais de Curitiba, curiosamente aquele antigo imóvel da rua Riachuelo onde ocorria a feira foi palco de uma de minhas memórias de infância. E, de fato, meio como criança, me diverti passeando os olhos panorâmicamente pelos estandes, admirando os sucessos e fracassos dos expositores ali presentes. A princípio, tudo nos conformes, como manda o figurino e sem grandes novidades no horizonte, mas isso só até me deparar com uma casa editorial da qual jamais ouvira falar.

A Casatrês é uma pequena editora que, como a Contravento Editorial, surgiu da cumplicidade de uma dupla para, a partir de um dado momento, seguir como aventura de um homem só, assim fazendo do editor uma espécie de Dom Quixote sem Sancho Pança, ou vice-versa.

Na Casatrês o aventureiro de plantão atende pelo nome de Felipe Moreno, único membro de um corpo de funcionários inversamente proporcional à qualidade de suas realizações. Pois, se por um lado Felipe manufatura livros da mesma maneira que eles costumam ser escritos, isto é, solitariamente, por outro lado podemos afirmar sem medo que a beleza destilada por seu trabalho é multitudinária, ainda que unificada como as fibras de uma corda, ainda que potente feito flecha: cada livro que sai da Casatrês vem em arco ascendente, impulsionado pelas muitas mãos que nas de Felipe encontram seus gestos.

Foi ali, no estande da Casatrês, que me encontrei não só com magníficos livros de haicais aproximadamente do tamanho da mão de um recém-nascido, elegantes plaquetes reunindo críticas à tecnologia e outras criaturas. Ali também descobri o Corra magrelinho, corra, assinado por um tal Marcos Reigota, nome diante do qual não pude conter uma expressão de surpresa e que nos conduz a outra anedota que, espero, possa iluminar os projetos de Abwyz, assim como as intricadas maranhas do mercado editorial independente.

Durante um bom tempo, Reigota foi um dos mais fiéis e calorosos leitores d’A Fresta impressa, versão física e gratuita desta coluna, que agora você provavelmente está lendo no Portal da Aboio, quando ela ainda era publicada pela editora Sobinfluência. Periodicamente, aquele desconhecido selecionava e enviava cartões postais de sua coleção sinalizando o recebimento d’A Fresta. Assim, ele se tornou um dos únicos interlocutores efetivos que não apenas agradecia pelo presente recebido, como também se dedicava a tecer breves comentários sobre os textos publicados. Da minha parte, fazia questão de responder à gentileza dele também por escrito. Porém, sem jamais, como se diz, “jogar o nome no Google” para dissolver o mistério e descobrir afinal quem era o simpático misterioso. Pelo contrário, me interessava conservar o enigma, não só por preciosismo, mas como experiência. E eis que então, alguns depois, naquele 8 de outubro de 2023 me encontrava com o Corra magrelinho, corra, do Marcos Reigota no estande da Casatrês na Feira Estopim.

A partir daquele acaso a conversa com Felipe engrenou e nos permitiu alinhavar outras linhas e balizas, inclusive as que viriam desaguar em um projeto hoje no prelo: o terceiro volume da coleção As frutas das samambaias, intitulado Pois estamos vivendo um período, que reúne relatos de sonhos de Marceli Mengarda, posfaciados por Bolívar Escobar, e para cuja publicação a Casatrês e a Contravento Editorial somam esforços. Além disso, foi também naquela conversa em volta dos livros da Casatrês que surgiu, muito de passagem e espontaneamente, o nome de Sarane Alexandrian.

Se bem me lembro, foi em Retalhos (Casatrês, 2022)que Felipe Moreno estabeleceu uma lista dos livros que não escreveu, com assuntos para romances e dos quais o único do qual lembro vagamente é o que contaria uma história que se passa dentro de um elevador. Provavelmente, a dúbia memória se deve ao fato de eu mesmo ter um dia ter escrito um poema de amor no qual um jardim ficava subindo e descendo no interior de um elevador; e também por ouvido alguém contar que leu — não tenho certeza se num livro do diretor de cinema Alejandro Jodorowsky, evocado numa conversa nas ruas de La Plata em 2013 —, algo sobre um elevador pendular. Elevadores à parte, enquanto folheava os Retalhos, manifestando uma certa mania citacional, comentei com seu autor e editor que um iraquiano chamado Sarane Alexandrian publicara um livro chamado justamente Sessenta enredos de romances bem na moda hoje em dia e noite (Fayard, 2000). Diante da curiosidade de Felipe que, sendo ele um rapaz gentil, é bem possível que fosse na verdade pura simpatia e bons modos, passei-lhe a referência, assumindo os riscos de soar preceptoral e, consequentemente, naquele contexto, chato. Entretanto, já no caminho de volta para casa, senti que aquilo era insuficiente — não soar preceptoral e chato, mas lançar no ar um título, bater o pó das mãos e ir embora chuva afora.

Por algum motivo que sigo desconhecendo, me senti instado a de fato apresentar um trecho do livro do Sarane para o Felipe. Ora, como nada do volume em questão se encontrava disponível em português, me pareceu conveniente e simpático dedicar algumas horas de trabalho ao assunto e traduzir um trecho para enviá-lo como presente, de modo a celebrar o encontro e os projetos vindouros. Afinal, por que seguir enfrentando o meio literário e suas agruras se não para isso, para permitir e celebrar encontros e lançar-se rumo ao desconhecido?

Foi graças a mais este desconhecido que, ao longo dos trabalhos, algum ímpeto fez com que aquilo que era para ser a tradução de um excerto incluído em um email viesse a se configurar como esta série que vêm sendo publicada n’A Fresta. Portanto, o que inicialmente não passaria de um documento de circulação interna, logo se tornou um “Argumento” seguido de um breve comentário para, a seguir, estender-se até se impor como quinteto, logo rebatizado de “quina”, e cuja quarta parte é essa, na qual até parece que entrego o jogo, mas não as pontas, as quais aliás têm de seguir soltas para formar nós.

Lembro que, ao longo do breve percurso percorrido até agora, além de apresentar um par de textos e um fragmento escritos por Alexandrian, tivemos a oportunidade de suplementá-los com alguns de seus dados biográficos e de criticar muito rápida e superficialmente algo de suas realizações; isso não sem render homenagens, além de abordar e praticar métodos pouco convencionais de escrita.

Dito isso, podemos observar que o interesse inopinado de alguém sobre um autor, que até então era para aquele alguém mais um nome próprio do que um sujeito, revela o acontecimento de algo da ordem do inesperado da vida. Assim, agora até parece lógico que, antes de concluir a quina, voltemos ao sentimento que lhe deu origem: isto é, ao mesmo tempo celebrando o ressurgimento de Marcos Reigota e a busca de Felipe pelos fragmentos com uma tradução de um escrito extraído de um caderno de fragmentos de juventude do próprio Sarane Alexandrian. Frente a isso, não poderíamos deixar de notar que, em “Como tentar o impossível em literatura”, o autor sonha em assumir livros que outros deixaram pelo caminho, meio como um dia tanto o Felipe quanto eu tivemos de fazer para continuar publicando e assim nos encontrarmos de modo a, juntos, assumir a edição de sonhos alheios.

Cabe ainda anotar que “Como tentar o impossível em literatura”, que acabamos de apresentar nest’A Fresta, novamente pela primeira vez em português, foi publicado no primeiro número da revista Supérieur Inconnu em 1995 e, segundo Sarane Alexandrian, faz parte de um de seus “cadernos de reflexão”, intitulado O espectro da linguagem (1953-1995).

E não poderíamos encerrar este breve comentário sem observar que, estranhamente, e num primeiro momento, o corpus das letras brasileiras parece incrivelmente menos pródigo em projetos inacabados do que o das letras francesas, o que a meu ver não quer dizer que os brasileiros sejam especialmente engajados ou não-procrastinadores.

Portanto, como um primeiro esforço visando possibilitar um texto que pudesse responder aos esforços de Abwyz, imitando no contexto brasileiro a tarefa que ele teria levado à cabo no contexto francês, renderam a não exaustiva lista que apresento abaixo. Cumpre notar que, diferentemente da maior parte do material reunido por Abwyz, a maioria dos itens da lista dizem respeito a inacabados, mais do que a alusões, esboços ou breves linhas de ideias. Também sublinho que os primeiros quatro itens, que não dizem respeito a “grande escritores do passado”, foram obtidos graças ao artigo “Teoria geral do abandono literário”, publicado por Luisa Geisler em 2018, ela que parece partilhar do interesse manifestado por Sarane e Abwyz no texto que traduzimos acima. A estes, acrescentamos duas exceções.

Natan Schäfer

Notas preliminares para tentar o impossível na literatura brasileira

  • Luisa Geisler informa que o escritor Marcelo Moutinho teria em projeto narrativa longa sobre “o estigma do atropelamento”, que segundo ele “acompanha a história da sua família”. Dentre os livros publicados desde 2018 pelo autor, ao que parece nenhum deles trata do estigma por ele evocado.
  • Simone Campos que, segundo Luísa, afirma ter “dois projetos não terminados: um RPG feminista e um romance de celular (inspirado nos que fazem sucesso no Japão)”, depois de 2018 publicou somente um romance de suspense. Portanto, ao que parece, seus projetos não terminados seguem inacabados.
  • Se em 2018 Natália Borges Polesso tinha “três livros pela metade: romance, contos e poesia”, hoje podemos supor que dentre os cinco que ela publicou desde então esteja algum daqueles três.
  • André de Leones afirmou para Luísa que seu projeto inacabado consistia em “um romance de ficção científica que se passa em um século XX alternativo”. Não localizamos nenhuma ficção científica publicada por André depois de 2018.
  • Abrimos uma exceção nesta lista de livros para mencionar O Canto da Raça, filme realizado por José Medina em 1942, com base em um poema de Cassiano Ricardo retratando a cidade de São Paulo. Diversas fontes indicam que o filme foi queimado sob acusação de “bairrismo”.
  • Ainda no âmbito das exceções, incluímos aqui O almirante negro, de Benjamin Péret, livro em, e de um, francês que, no entanto, teria sido escrito no Brasil no início da década de 1930. Assim como o filme de Medina, o livro de Péret sobre a Revolta da Chibata também parece ter sido eliminado por forças à serviço do governo[15].
  1. Sagrada Teologia do Amor de Deus, Luz Brilhante das Almas Peregrinas,por Rosa Maria Egipcíaca de Vera Cruz.
    Até onde se tem notícia, a Sagrada Teologia do Amor de Deus, Luz Brilhante das Almas Peregrinas, escrito por Rosa Maria Egipcíaca de Vera Cruz(1719-1771) em meados do século XVIII, teria sido o primeiro livro escrito por uma negra no Brasil. Rosa Maria era uma escrava alforriada que, segundo documentos da inquisição citados pelo seu biógrafo Luiz Mott, tinha “ambições: não basta pregar, como Cristo fazia. Ela se dá conta que se aprender a ler terá a chave dos mistérios divinos, poderá mergulhar na própria fonte da revelação católica e por conta própria aprender orações, ladainhas e dogmas que até então só tinha acesso ex audito, através do ouvido, quer nos sermões dominicais, quer nos conselhos particulares que lhe davam os sacerdotes”. O livro em questão versaria sobre visões e pensamentos da autora. Contudo, embora vários artigos afirmem que algumas páginas do manuscrito foram conservadas, nenhum dos que pudemos consultar informa onde estão e tampouco transcrevem seu conteúdo.
  2. Os contrabandistas, por José de Alencar.
    Em “Como e porque sou romancista”, José de Alencar (1829-1877) conta que “trancara na cômoda” seus “queridos manuscritos”, mas alguém os teria posto numa estante para dar lugar à roupas. Teria sido assim que “um desalmado hóspede, todas as noites quando queria pitar” incinerara uma por uma as folhas de seu primeiro romance Os contrabandistas. Alencar considerava este “um dos melhores e mais felizes” de seus romances, abrageendo “desde o idílio até a epopeia”. Seguindo a indicação do autor, a sua composição teria se dado nos arredores de 1847, “não pela ordem dos capítulo, mas destacadamente esta ou aquela das partes em que se dividia a obra”. Aliás, isso parece passar de raspão pela poética dos fragmentos que Roland Barthes viria a desenvolver aproximadamente um século depois. Em 2011, a Casa de José de Alencar, em parceria com o Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará e o Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional, anunciou um projeto de digitalização de documentos inéditos de José de Alencar. Percorrendo os manuscritos disponibilizados pela Casa José de Alencar, encontramos os que efetivamente parecem corresponder a Os contrabandistas. Apesar de bastante borrados e em mal estado, é possível decifrar um tal Carlos, provavelmente o protagonista da obra, interagindo com outros personagens, como Manoel, Eduardo e Juliete. Há também menção a um navio e ao Hospital São Francisco de Paula, no Rio de Janeiro. Chama atenção, além da textura do manuscrito e de sua existência, a inclusão de um trecho de “Livro de contas” no corpo do romance, como se fosse uma collage.
  3. Jacy, por Sabbas da Costa.
    Francisco Gaudêncio Sabbas da Costa (1829-1874) foi integrante do Grupo Maranhense, grupo de tendência romântica e que seria responsável por granjear o apelido de “Atenas brasileira” para a capital do Maranhão. Embora Sabbas da Costa tenha deixado uma obra de extensão considerável, tendo inclusive animado uma revista intitulada Crepúsculo, no século XX não gozou do prestígio de seus colegas de grupo Odorico Mendes e Sousândrade, hoje bastante conhecidos e citados, sobretudo graças à sua recuperação pelos concretistas. Embora seu autor os considere um “esboço de romance”, os 14 capítulos de Jacy, a lenda maranhense, publicados no Semanário Maranhense de 1º de setembro a 19 de dezembro de 1867, parecem constituir um todo acabado, de modo que talvez não devesse constar nesta lista. A obra apresenta teor notadamente ufanista, cujas “cenas”, segundo o autor, “servem para apresentar às nossas amáveis leitoras um pouco do que é brasileiro, e especialmente maranhense”.
  4. Memórias de Agápito, por Gonçalves Dias.
    As Memórias de Agápito foram Apresentadas no jornal O Arquivo entre fevereiro e outubro de 1846 como “fragmentos de um romance inédito”. Segundo a nota de Antônio Henriques Leal, amigo e biógrafo de Gonçalves Dias (1823-1864), às Obras Póstumas de A. Gonçalves Dias,“vivendo ainda a maior parte dos personagens que figuravam nelas [nas cenas do romance], entregou o poeta às chamas os três volumes de que se compunham, roubando assim das letras valores de inestimável preço, principalmente o último volume em cartas e no gênero da Nova Heloísa de Rousseau”. Ainda segundo Leal, um dos trechos que “sobreviveu as chamas” foi nada menos que a “Canção do exílio”, que “entrava em um dos capítulo” e hoje figura em quase todos os manuais de literatura disponíveis no mercado.
  5. A adúltera, Um caso de adultério e Em flagrante, por Aluísio de Azevedo e Emílio Rouede.

    Aluísio de Azevedo (1857-1913) escreveu, em conjunto com Émile Rouede (1848-1908), três peças — A adúltera, Um caso de adultério e Em flagrante — cujos manuscritos foram perdidos. Cumpre notar que a Biblioteca do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco possui em seu catálogo um volume intitulado A adúltera, por Dubut de Laforest, autor francês contemporâneo de Aluísio de Azevedo e Emílio Rouéde.
  6. Agonia, por Raul Pompéia.
    Em Minhas memórias dos outros (Civilização Brasileira, 1978), o magistrado Rodrigo Otávio, que conviveu com Raul Pompéia (1863-1895), confirma que este último deixou inacabado um romance intitulado Agonia, cujo manuscrito teria se extraviado. O romance seria uma recriação d’O Ateneu a partir de uma perspectiva feminina.
  7. O cemitério dos vivos, de Lima Barreto. Em O cemitério dos vivos Lima Barreto (1881-1922) pretendia ficcionalizar o período que esteve internado no Hospício da Praia Vermelha. As anotações reunidas no diário que manteve durante aquele período foram publicadas pela editora Planeta em 2004. Embora alguns trechos se encontrem bastante desenvolvidos, outros são bastante breves e enigmáticos como, por exemplo, “o caso dos jornais atrasados e a sua prisão no dormitório-cárcere”; “O doente borrado, seminu, o seu aspecto horripilante. / O seu maneio de sombra no corredor”; e os que a meu ver estão dentre os melhores, que não indicam mais do que um personagem, como “o barbeiro”, “Rabelais XIII” e “Juliano (Tito) César Flamínio”. Também não poderia deixar de mencionar este a seguir, que parece um pensamento em voz alta: “comparar com o bilhar. Por quê?”.
  8. Sinal de partida, por Mário Pedrosa.
    Entre 1928 e 1929, durante uma estadia em Berlim, Mário Pedrosa (1900-1981) entrou em contato com o expressionismo alemão e estudou com Werner Sombart e Eduard Spranger. Ali escreve Sinal de partida, que é qualificado no Diário Carioca de 9 de novembro de 1947, que traz um longa entrevista com Pedrosa feita por Paulo Mendes Campos, como “livro entre ensaio e ficção, no gênero das obras surrealistas”.
  9. Alma branca, por Cornélio Penna.
    Romance deixado inacabado por Cornélio Penna (1896-1958) quando de sua morte, em 1958. Seus fragmentos foram publicados em Alma Branca e Outros Escritos pela editora Faria e Silva em 2020. Não tivemos acesso ao volume.
  10. Café, por Mário de Andrade.
    Café foi publicado pela Nova Fronteira em 2015. Em carta a Manuel Bandeira o próprio Mário de Andrade (1893-1945) dizia supor que iria “ratar” o romance, pois o sentia como superior às suas forças. A edição da Nova Fronteira, fruto da tese de doutorado de Tatiana Longo Figueiredo, conta com 264 páginas, bem menos que as oitocentas previstas pelo autor, que provavelmente incluiriam o também inacabado Vento, iniciado entre 1924 e 1925.
  11. Apocalipse, por Lúcio Cardoso.
    Apocalipse foi anunciado na primeira edição (1936) d’A luz no subsolo como segundo volume da trilogia A luta contra a morte. Em fevereiro de 1951, Lúcio Cardoso (1912-1968) se refere a ele em seu diário como “o velho, o nunca abandonado ‘Apocalipse’, que já mudou de nome várias vezes” e indica que “o panorama é o de uma cidade, uma cidade inteira, com suas praças e cantos sombreados, suas velhas casas onde se escondem ainda tonéis de vinho, pipas portuguesas, com suas varandas que já não retinem mais ao rumor dos bailes, seus mexericos e seus tipos peculiares”. Lúcio Cardoso também deixou inacabado um filme intitulado A Mulher de Longe, a partir do qual Luiz Carlos Lacerda realizou um documentário homônimo em 2012.
  12. Jazigos e covas rasas, de Gilberto Freyre.
    Jazigos e covas rasas, de Gilberto Freyre (1900-1987), seria o quarto volume da tetralogia História da Sociedade Patriarcal no Brasil, da qual o autor publicou apenas Casa-grande & senzala, Sobrados e mucambos e Ordem e progresso. Segundo a “Nota metodológica” publicada por Freyre em Ordem e progresso, o volume se encontrava então “em rascunho” e seria “publicado em breve”. Na introdução à segunda edição de Sobrados e mucambos (1961), Freyre afirma que Jazigos e covas rasas “cobrirá o mais possível, como estudo de ritos patriarcais de sepultamento e de influência de mortos sobre vivos, aquelas várias fases de desenvolvimento e de desintegração na qual ainda se encontra a sociedade brasileira — do patriarcado, ou da família tutelar, entre nós”. Há controvérsias quanto ao destino do manuscrito[16].
  13. Cidade, por Nelson Rodrigues.
    Em 1937 Nelson Rodrigues (1912-1980) publicou no jornal O Globo “O irmão”, anunciado como o primeiro capítulo de um romance intitulado Cidade, então supostamente no prelo. O romance em questão, que jamais foi publicado por Nelson Rodrigues, foi retomado pela editora Nova Fronteira, que convidou os escritores André Sant’Anna, Carlito Azevedo, Aldir Blanc e Veronica Stigger para concluí-lo, incluindo ao final um capítulo realizado por Leila Name e as editoras Maria Cristina Jerônimo e Izabel Aleixo a partir de um texto de Suzana Flag, pseudônimo de Nelson Rodrigues.
  14. Uma cabeça levada em triunfo, de Osman Lins.
    Uma cabeça levada em triunfo foi o último projeto de romance no qual Osman Lins (1924-1978) trabalhou de 1976 até sua morte em 1978. Dois trechos foram publicados por Francisco José Gonçalves Lima Rocha na revista Eutomia em 2014. Segundo o plano traçado por Osman, “o livro gira em torno da luta pela cabeça de um homem. No caso, um cangaceiro: João Isidoro ou Antonio Isidoro”. Os manuscritos estão conservados na Casa Rui Barbosa e embora o estabelecimento do texto por Rocha parecesse avançado a partir dos artigos que publicou, até o momento o livro inacabado de Osman não foi publicado.
  15. A casa de farinha, por João Cabral de Melo Neto.
    De 1966 a 1985 datam os rascunhos referentes A casa de farinha, deixados por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) a sua filha Inêz. Segundo ela, antes de morrer Cabral teria lhe dito: “Não vou mais terminar, estou cego. Veja se dá para fazer alguma coisa”. Estes esboços, publicados em 2013 pela Alfaguara como Notas sobre uma possível a casa de farinha, dizem respeito a um longo poema que apresenta os conflitos de um grupo de trabalhadores de uma tradicional casa de farinha face aos avanços trazidos pela modernidade.
  16. Bóris, o vermelho, e A apostasia universal de Água Brusca, por Jorge Amado.
    Nos anos 1990 Jorge Amado (1912-2001) trabalhava em um romance intitulado Bóris, o vermelho, ideia que ele dizia persegui-lo sem que conseguisse acabá-la e pela qual temia ser “mais uma vez derrotado”. Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada em 12 de março de 1994, o autor descreve Bóris, o protagonista do romance, como um “mulato sarará” de 18, 19 anos, que “vive entre dois pólos: o movimento hippie e o movimento de estudantes contra a ditadura. (…) Mas não é hippie nem ativista”. Em 25 de dezembro daquele mesmo ano, Jorge Amado publicou um texto com o mesmo título do livro inacabado, também na Folha de S. Paulo, no qual lemos que: “do moço de Itapuã (…) monstruoso bandido, incomparável herói (…) nada restou, sequer a poeira das cinzas esparsas em qualquer parte do sítio sigiloso das manobras. Tudo, absolutamente tudo, desapareceu sem deixar rastro visível, virou fumaça no clangor da batalha”. Além deste, Jorge Amado também deixou inacabado o romance A apostasia universal de Água Brusca, que começou a escrever em 1995 e que trata de disputas por poder entre a igreja e os coronéis do interior da Bahia.
  17. Obra em Obras: O Brasil, por Décio Pignatari.
    Numa entrevista publicada pela Folha de S. Paulo em 27 de maio de 1998, o entrevistador Bernardo Carvalho anota que Décio Pignatari (1927-2012) teria um “novo romance, ainda em gestação e com o título provisório” e, segundo Décio “joyceano”, de Obra em Obras: O Brasil. Ao que parece, o romance viria a completar a “revolução” tão desejada por ele, de que “a língua portuguesa ultrapasse finalmente o nível da língua e vire linguagem”. Posteriormente, em 27 de agosto de 2015, o romance foi evocado por Tadeu Jungle e Dante Pignatari em uma mesa-redonda com Augusto de Campos e Walter Silveira. Segundo Dante, filho de Décio, seu pai “nunca nem começou” o tal romance.

NOTAS

[1] N. do t.: Luís XVIII, que se torna rei da França quando Napoleão deixa o poder em 1815 e, provavelmente, William Pitt, o Novo, primeiro-ministro do Reino Unido de 1783 a 1801 e, depois, de 1804 até sua morte em 1806.

[2] N. do t.: A princípio os bousingos, termo supostamente derivado do inglês “bowsing ken”, consistiram em um grupo político de tendência republicana que contribuiu para a deposição de Carlos X e cujos membros usavam bousingot, um chapéu de couro de abas largas. Posteriormente, a crítica da época passou a denominar bousingots os “pequenos românticos” que se reuniam no ateliê do escultor Jehan Duseigneur, onde se constituiu o “Pequeno cenáculo”, segundo Théophile Gautier liderado pelo “lobisomem” Pétrus Borel. Os bousingos reunidos em torno de Borel praticavam uma espécie de extremismo romântico, se destacando pelo comportamento excêntrico e arruaceiro, que acentuava os valores mais transgressivos do romantismo francês.

[3] N. do t.: No século XIX “jeune-France” era uma espécie de sinônimo de bousingo.

[4] N. do t.: Louis Perceau foi, além de amigo e colaborador de Guillaume Apollinaire, um notório bibliógrafo da primeira metade do século XX.

[5] N. do t.: Isabelle de Charrière, também conhecida como Belle de Zuylen, foi uma escritora e compositora suíço-holandesa atuante sobretudo na segunda metade do século XVIII. Diferentemente de Abwyz e Rachilde, Isabelle tinha na verdade 46 anos quando conheceu Benjamin Constant, este sim então com 19 anos.

[6] N. do t.: Em 1980 a escritora belga Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher eleita para a Academia Francesa de Letras. Seu romance Memórias de Adriano atualmente se encontra em sua 25ª edição no Brasil, pela Nova Fronteira, que o apresenta como “uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX (…) espécie de autobiografia imaginária” onde “Yourcenar recria a notável vida do imperador Adriano”.

[7] N. do t.: Germaine de Staël foi uma grande intelectual francesa que, embora tenha sido favorável à Revolução Francesa, posteriormente se opôs a Napoleão. Foi grande defensora de uma certa “germanofilia”, expressa em Da Alemanha, decisiva para abrir as vias francesas ao Romantismo alemão.

[8] N. do t.: Juliette Récamier, em cujo salon se reuniam as maiores celebridades da França de sua época. Além disso, sua figura se tornou famosa a partir de retratos realizados por eminentes pintores do século, como Jacques-Louis David e Fragonard.

[9] N. do t.: Jean-Pons-Guillaume Viennet fez carreira militar sob o Império de Napoleão. Opositor ferrenho do romantismo, foi eleito para a Academia Francesa em 1830.

[10] N. do t.: Conhecido como o “naufragador da República” por sua participação como presidente da comissão que outorgou plenos poderes ao Marechal Pétain em 1940 — Pétain que, vale lembrar, instauraria o Regime de Vichy e estabeleceria a colaboração da França com a ocupação nazista —, Jean Mistler foi eleito para a Academia Francesa em 1966.

[11] Preferimos “tátil” a “material” pois, segundo Lênin, a “matéria é o que, atuando sobre nossos órgãos dos sentidos, produz a sensação; a matéria é a realidade objetiva, que nos é dada nas sensações”. Consideramos esta definição demasiadamente distante do idealismo que, a nosso ver, parece ter um papel decisivo na constituição disso que denominamos realidade.

[12] Cf. “Sin utopía no hay realidad: apuntes para volver del futuro”, publicado por Fernando De Leonardis na coletânea Sin utopía no hay realidad. A propósito de Karl Marx, organizada por ele mesmo e por Carla Imbrogno (TNA, 2018).

[13] A definição oferecida peEditora independente é uma editora sem vínculo com grupos de investidores ou grandes grupos econômicos e empresariais

[14] Após a conclusão do presente texto descobrimos o Como nasce uma editora (Entretantas, 2023), de Ana Elisa Ribeiro, onde a autora parece se propor a uma reflexão do tipo.

[15] Para mais informações, vide o artigo de Dainis Karepovs, “Benjamin Péret: um audacioso indesejado”, disponível em: < http://legacy.anpuh.org/sp/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/Autores%20e%20Artigos/Dainis%20Karepovs.pdf >; acesso em 2 de abril de 2024.

[16] Para maiores informações, vide o artigo “Jazigos e covas rasas: o livro que Gilberto Freyre não escreveu?”, de Solange de Aragão.

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