A violência é um dos signos marcantes da literatura latino-americana. Num recorte mais simplório, e nem por isso incorreto, seria possível dizer que, do ponto de vista dos espaços de ficcionalização da violência, há autores que recorrem a mundos oblíquos ou imaginados, e autores que recriam a realidade doméstica mais ordinária. Eu não disse, estreia de Lara Haje na ficção, persegue sem dúvida o segundo caminho.
Desdobrando-se, simbolicamente, entre uma Silvina Ocampo e uma María Fernanda Ampuero, a autora coloca o espaço doméstico no epicentro dos conflitos sociais. A casa e a família, representações ideais de albergue e contenção, escondem e esparramam toda sorte de ameaças: distúrbios alimentares, vícios, depressão, suicídio. Perfazendo uma espécie de “pré-gore”, Lara Haje expõe as vísceras de tudo aquilo que, como promessa ou fingimento, acostumamos a chamar de familiar.
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